PELE E LESÕES DE CICATRIZAÇÕES
A PELE
A pele é o maior órgão do corpo (15% de seu peso), formando uma membrana flexível que cobre toda sua superfície. A pele fornece proteção ao corpo por meio do contato com o ambiente externo, oferecendo resistência, até certa medida, contra agressão mecânica, térmica e química. A pele também realiza, ou contribui para, uma ampla gama de funções como a metabólica, neurológica, imunológica e regulação da temperatura.
ANATOMIA
Epiderme
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Camada externa fina e avascular
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Renova-se totalmente de 15 a 30 dias
Derme
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Principal estrutura de suporte da pele
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Camada altamente vascular da pele
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Contém nervos
Tecido Subcutâneo
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Tecido gorduroso
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Amortecedor
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Até 3 cm de espessura, dependendo da localização da lesão
EPIDERME
A camada mais externa da pele, a epiderme forma a barreira externa do corpo, fornecendo as funções de proteção e impermeabilidade. A espessura da camada varia dependendo da área do corpo em questão. Ela tem, em média, 0,5 mm de espessura, mas pode ter até 5 mm de espessura nas solas dos pés.
DERME
A derme é a camada viva da pele e é altamente vascularizada. Altamente vascularizada, sua função é oferecer suporte ao tecido conjuntivo. Ela é rica em fibras que tornam a pele elástica e resistente.
HIPODERME
Esta é uma camada deslizante de células adiposas, que realizam funções de transição e armazenamento de água e gordura. Ela está em contato próximo com as camadas subjacentes de músculo.
BASE DE CICATRIZAÇÕES DE LESÕES
A cicatrização da lesão, ou reparo da lesão, é o processo natural de regeneração do tecido dérmico e epidérmico. Quando uma lesão ocorre, um conjunto de eventos bioquímicos complexos ocorre em uma cascata cuidadosamente orquestrada, para garantir que o dano seja reparado.
O PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO
O processo de cicatrização pode ser dividido em 3 fases, há um grau de sobreposição entre as diferentes fases conforme demonstrado na tabela.
AS TRÊS FASES PRINCIPAIS DE UMA CICATRIZAÇÃO NORMAL
HEMOSTASIA
INFLAMAÇÃO
RECONSTRUÇÃO GRANULAÇÃO
EPITELIZAÇÃO
REMODELAGEM
TEMPO ANTES DO INICIO DA APRESENTAÇÃO DESTA FASE DA LESÃO
Imediata a alguns minutos
Algumas horas a alguns dias
Cerca de 1 semana (reorganização da matriz extracelular)
DURAÇÃO
Algumas horas
a 2/3 dias
1 a 3 semanas
Alguns meses a alguns anos
CÉLULAS-CHAVE
Plaquetas Neutrófilos, em seguida macrofagos +++
Fibroblastos +++ Queratinócitos
Macrófagos Fibroblastos
EFEITOS
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Formação de MEC extracelular temporária
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Secreção e ativação de mediadores
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Recrutamento de células inflamatórias, fibroblastos e células endoteliais
Formação de tecido
de granulação:
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Proliferação celular: fibroblastos, células endoteliais
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Sintese de uma nova MEC
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Angiogênese
Re-epitelização:
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Transformação de fibroblastos em miofibroblastos
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Migração de células endoteliais a partir das bordas
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Restauração da função de barreira da epiderme por queratinócitos
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Reorganização progressiva da matriz sob influência de miofibroblastos
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Modificações da % de diferentes tipo de colágeno: colágeno I, colágino III
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Apoptose de miofibroblastos
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Sintese de uma matriz extracelular mais forte pelos fibroblastos
FASE INFLAMATÓRIA
CUIDANDO DA LESÃO
Protocolos de cuidado da lesão serão específicos à comunidade ou hospital local. Entretanto, antes de iniciar o tratamento, o profissional de saúde deve garantir que o processo diagnóstico e de avaliação seja concluído e que a origem da lesão tenha sido encontrada.
CICATRIZAÇÃO EM UM AMBIENTE ÚMIDO
A cicatrização de uma lesão úmida é 30% mais rápida do que a cicatrização da lesão em um ambiente seco.
A cicatrização natural ocorre em um ambiente de lesão úmido. Elementos celulares e moleculares migram e se desenvolvem de forma mais eficiente sob estas condições. Isso foi demonstrado pela primeira vez em 1962 por Winter, que mostrou que a cicatrização sob uma cobertura sem oclusiva sintética foi mais rápida do que quando uma lesão era deixada exposta ao ar.
BACTERIOLOGIA DAS LESÕES
Uma vez que a superfície da pele normal abriga bactérias (colonização natural), estas estão inevitavelmente presentes nas lesões.
A diferença entre colonização e infecção depende do número e tipos de bactérias presentes e a resposta do corpo a estas bactérias.
A presença de grandes quantidades de bactérias atrapalha o processo de cicatrização natural, levando ao retardo da cicatrização da lesão.
Diferentemente da infecção, a colonização bacteriana é perfeitamente normal e não exige qualquer procedimento terapêutico específico.
Colonização
A colonização é a presença de bactérias dentro de uma lesão, sem que isso leve a uma resposta inflamatória.
A maior parte da colonização de lesões agudas é por bactérias como estreptococos e estafilococos, que já estão presentes na pele saudável normal (organismos comensais).
A população bacteriana em lesões crônicas é muito mais variada, incluindo bactérias cutâneas comensais, como Staphylococcus (S. aureus, estafilococos coagulase-negativos), Corynebacteria e estreptococos α-hemolíticos. Após a multiplicação de micro-organismos na lesão e aderência ás células epiteliais, é estabelecido um equilíbrio entre o paciente e sua flora microbiana. Os micro-organismos permanecem na superfície da lesão e podem formar um biofilme.
Biofilme
Biofilmes são comunidades bacterianas complexas que contêm bactérias e fungos. Os micro-organismos sintetizam e secretam uma matriz protetora que adere o biofilme firmemente a uma superfície viva (por exemplo, lesão) ou não viva. Biofilmes são comunidades heterogêneas dinâmicas que estão em constante mudança. Eles podem consistir em uma única espécie bacteriana ou fúngica, ou podem conter múltiplas espécies diversificadas.
Um biofilme pode ser descrito como bactérias inseridas em uma barreira espessa e viscosa de açúcares e proteínas. Um exemplo típico de biofilme é a película viscosa amarela que pode ser vista sobre os dentes se não forem escovados. A barreira do biofilme protege os micro-organismos contra ameaças externas. Os biofilmes podem ser encontrados em lesões e existe a suspeita de que eles retardem a cicatrização em alguns casos.
INFECÇÃO
O termo infecção é usado quando a presença de micro-organismos leva a uma resposta inflamatória local, regional ou geral com sintomas clínicos. A infecção não somente irá retardar a cicatrização como também poderá levar a complicações sistêmicas graves. A infecção sempre exige tratamento com antissépticos ou antibióticos.
A infecção local ou colonização crítica (com sinais como pus, vermelhidão, aumento de exsudato ou odor) deve ser diferenciada de infecção com sinais regionais (celulite) ou sinais sistêmicos (isto é, febre).
ETAPAS DA CICATRIZAÇÃO
CICATRIZAÇÃO POR PRIMEIRA INTENÇÃO
A cicatrização de primeira linha se refere a lesões cirúrgicas ou lesões traumáticas suturadas cirurgicamente. A primeira fase de cicatrização é a reconstrução da continuidade cutânea e corresponde ao tempo durante o qual o cirurgião deixa a sutura no local.
As suturas são removidas após um período de 5 a 15 dias. A duração deste período depende da espessura da pele e da tensão aplicada às bordas.
A cicatrização ainda não está completa quando as suturas forem removidas, porque um fenômeno de inflamação é observado, e que pode durar até dois meses. Após dois ou mesmo três meses, a cicatriz irá diminuir progressivamente embora ela não desapareça inteiramente..
CICATRIZAÇÃO POR SEGUNDA INTENÇÃO OU CICATRIZAÇÃO DIRECIONADA
Aqui a lesão é deixada aberta. Este método pode ser usado quando há uma perda tecidual considerável, a área de superfície é pouco profunda, porém grande, ou quando pode ter havido uma infecção ou risco de uma infecção. O desbridamento (remoção de esfacelo) é quase sempre necessário como a primeira etapa para uma cicatrização bem-sucedida. A cicatrização da lesão progride por granulação, contração e epitelização.
Estas recomendações não substituem a opinião de especialistas com base em um diagnóstico completo.